Um Romance Que Seduziu Milhões De Mulheres Ao Redor Do Mundo

Capítulo 4 - Mentira tem perna curta

ANGELA

A água escaldante caiu em cascata sobre minha pele, mas não importava o quanto eu me esfregasse - ainda me sentia suja. Nojento. Eu não podia acreditar como Xavier havia falado comigo. Eu não conseguia acreditar no que ele pensava de mim - que eu estava atrás de seu dinheiro e do nome de sua família. A ideia de usar alguém assim era o suficiente para me deixar doente, mas esse era exatamente o tipo de pessoa que ele acreditava que eu era.

Foi quando a ironia me atingiu. Eu estava atrás do dinheiro dele. Se não fosse pela fortuna de Knight, eu nunca teria concordado em me casar com Xavier Knight. Mas eu não estava fazendo isso por motivos egoístas. Eu estava fazendo isso para salvar a vida do meu pai. Mas será que isso muda alguma coisa?

Depois de desligar o chuveiro, enrolei uma toalha bem apertada em volta do meu corpo. Qualquer coisa para ajudar a me manter coesa. Eu me sequei e vesti meu pijama roboticamente, minha mente avoada.

Quando desabei na cama, meus olhos caíram sobre uma foto emoldurada do outro lado do meu quarto. Era uma foto minha, Danny, Lucas e meu pai. Todos nós parecíamos tão felizes. Papai parecia tão saudável. A foto foi tirada no último Dia de Ação de Graças. Danny queimou o peru e Lucas fez recheio demais, mas tudo foi perfeito. Todos nós nos esprememos no sofá velho e desgastado da sala e assistimos ao futebol sem preocupações com o futuro.

Eu coloquei minha cabeça em minhas mãos. Como tanta coisa mudou em apenas um ano? Papai sempre foi um pilar de força. Depois que a mãe faleceu, ele assumiu o papel de ambos os pais. Ele era a única constante, uma rocha firme na tempestade da vida. E agora ele estava no hospital, e eu não tinha certeza se ele iria...

Meu telefone tocou. Era minha melhor amiga Em:

Ângela 💬oi miga

Ângela 💬que tal sushi 🍣 hoje à noite?

Olhei para os pequenos emojis de sushi, a pequena imagem despretensiosa me salvando dos meus pensamentos. A última coisa que eu queria era sair em público. Meus cobertores sussurravam sedutoramente para mim, tentando-me com a promessa de escuridão e silêncio. Mas talvez sair fosse exatamente o que eu precisava. Mesmo que fosse para escapar dos meus pensamentos por uma noite. Para fugir da memória de Xavier me cravando adagas com seus olhos azul-gelo…

Em 💬ok te encontro no de sempre em 40 min

Ângela 💬sim! 🐟🐟

"Você é boa demais para a Curixon de qualquer maneira", disse Em, colocando outro pedaço de sashimi de salmão na boca.

Mergulhei meu próprio nigiri de atum em molho de soja, cantarolando sem compromisso. "Ainda não entendi", murmurei. "Tive uma sensação tão boa depois das minhas entrevistas."

"Bem, eles que saem perdendo." Em pegou um prato de sushi de salmão da esteira à nossa frente.

Ela estava acumulando rapidamente uma pequena torre de pratos vazios ao lado dela. Eu mastiguei minha comida, sem provar nada.

Se ao menos a Curixon tivesse dado certo. Talvez eu não tivesse ficado noiva de um bilionário odioso... Meus olhos percorriam preguiçosamente a esteira rolante lenta à minha frente. Eu tinha tantas opções, mas nenhuma delas era nem um pouco atraente.

Em colocou um sushi de salmão no meu prato vazio. "De qualquer forma, não viemos aqui para lamentar." Ela sorriu para mim, e não pude deixar de sentir meu ânimo melhorar um pouco. "Feliz véspera de Graças." 

"Feliz véspera de Graças," respondi, e juntamos nossos pedaços de sushi antes de comê-los.

Todos os anos, Em e eu tínhamos nosso jantarzinho pré-Ação de Graças antes de voltarmos para passá-la com nossas famílias. "De qualquer forma," Em disse com a boca cheia de comida, "você ouviu sobre a comoção no Central Park hoje cedo?"

"Hum?"

"Aparentemente, algum casal mega-rico realizou uma sessão de fotos sofisticada antes do casamento. Eles até bloquearam uma seção inteira para que ninguém pudesse chegar perto."

Eu engasguei, tentando o meu melhor para não enviar pedaços de sushi voando pela esteira.

Em me deu um copo de água. "Né? Não é uma doideira?" Ela suspirou, melancólica. "Imagine ser tão rico e apaixonado que poderia reservar o Central Park."

Bebi um pouco de água e limpei a garganta. "É, dá pra imaginar..." Eu não tinha como contar para ela que tinha sido sessão de fotos pré-casamento. Nem eu poderia corrigi-la. Claro, Xavier era mega rico. Mas definitivamente não estávamos apaixonados.

A expressão de ódio e desgosto nos olhos de Xavier voltou à minha mente. Nada poderia estar mais longe da verdade.

"Angela? Tá tudo bem?" Eu pisquei, saindo dos meus pensamentos.

"Claro," eu menti. "Parece que você viu um fantasma…"

"S-só um pouco cansada, eu acho."

Em olhou para mim, seus olhos procurando os meus. Eu nunca fui boa com mentiras. E Em me conhecia melhor do que ninguém. Mas eu não poderia ter contado a verdade a ela se quisesse. Eu não poderia contar a ninguém. Nem mesmo minha família. Eles provavelmente descobririam eventualmente.

Era impossível esconder um casamento tão importante para sempre. Mas eles nunca poderiam saber a verdade sobre meu acordo com Brad Knight. Fui literalmente contratada para mentir. E foi o que fiz.

"De qualquer forma, tenho que fazer alguns preparativos de última hora para o Dia de Ação de Graças amanhã", menti novamente. "Vou voltar."

"Ok", disse Em, seu tom neutro. Eu não sabia se ela acreditava em mim ou não, mas ela deixou passar.

Nós nos levantamos e, depois de pagar, saímos para o ar fresco da noite. Meu coração estava pesado de culpa. Tive que mentir para minha melhor amiga. E aquilo era só o começo…

 *****

Dad 💬 Não esquece da torta

Angela 💬 😱😱😱😱

Dad 💬 É sério

Angela 💬 Ops…

Dad 💬 NY muda as pessoas…

Angela 💬 Vou voltar pra buscar

Dad 💬 Deixa prá lá

Dad 💬 Só vem ajudar com o peru antes que o Danny queime tudo

Suspirando de frustração, recostei-me na cadeira e fechei os olhos. Eu não podia acreditar que tinha esquecido a torta de nozes. Era tradição no Dia de Ação de Graças. Mas, sejamos justos, eu tinha muita coisa na cabeça.

O trem passou por um buraco e eu me mexi no assento, encostando a cabeça na janela e olhando a paisagem que passava desfocada. Estaria em Heller em uma hora; Eu queria já estar lá.

Papai nos garantiu que estava bem o suficiente para ter o Dia de Ação de Graças em casa. Meus irmãos ficavam me dizendo como ele parecia muito melhor, e eu mal podia esperar para vê-lo pessoalmente.

Eu mal podia esperar para ver todos eles. Senti meu coração relaxar. Percebi como estava aliviada de deixar Nova York pra trás. Mesmo que fosse apenas por alguns dias, algum tempo longe do drama da proposta seria bom para mim.

Isso me daria espaço para respirar e bolar um plano.

Depois do que pareceu uma eternidade, finalmente subi os degraus da frente da casa da minha infância. Bati na porta e Lucas atendeu, me envolvendo em um grande abraço de urso. "Tá cheirando a trem", disse ele, puxando-me para dentro de casa.

"Bom ver você também," eu disse, mostrando minha língua.

Entrei e uma onda de nostalgia me atingiu. Foi onde eu cresci. A casa que me viu comemorar e chorar em medidas iguais. Era aqui que Em e eu costumávamos colocar filmes censurados no aparelho de DVD, onde Lucas e eu costumávamos construir fortes de almofadas e comer Nutella do pote. Mas estar de volta agora, com tudo o que aconteceu, parecia diferente. Como se, de alguma forma, esta casa não pudesse mais me proteger do mundo lá fora.

"Essa é ela? Angela? E lá estava ele, rolando pelo corredor em uma cadeira de rodas. Ele parecia mais com papai do que o homem na cama do hospital.

"PAI!" Eu pulei em direção a ele, abraçando-o com força. Ele de verdade parecia mais saudável.

Vê-lo fora do hospital fortaleceu minha determinação. Se aturar um bilionário zangado significava que papai ficaria bem... então era o que eu ia fazer.

"Caramba, Angie, estou aqui", disse ele, rindo. "Eu não vou a lugar nenhum. A menos que você me leve até lá."

"Eu sei." Tentei enxugar sorrateiramente uma lágrima antes que ela caísse do meu olho. "Estou feliz em ver você. Você parece bem."

"Pronto para ver o peru?"

"Você quer dizer Danny?" eu brinquei.

"EU OUVI ISSO!" Danny gritou da sala de estar. Eu sabia que ele já estava sentado no sofá assistindo futebol, com os olhos grudados na TV.

Eu não pude evitar que o sorriso bobo se espalhasse pelo meu rosto. Isso era exatamente o que eu precisava.

Nossa campainha tocou e todos nós olhamos para a porta em confusão.

"Estamos esperando alguém?" perguntei a Lucas.

"Não." Seus olhos se iluminaram por um segundo. "Você convidou Em?"

"Não, era para ela estar com a mãe." Caminhei até a porta e a abri...

E assim, meu pequeno santuário de Ação de Graças foi feito em pedaços.

Porque parado ali, parecendo bonito, perfeito e completamente deslocado com uma caixa de torta de nozes em seus braços, estava Xavier Knight.

Ele me deu um sorriso brilhante, mas não alcançou seus olhos. Eles pareciam frios. Calculistas. Como um lobo brincando com sua comida antes de se lançar para matar.

"Ei, querida", ele zombou. Meu coração acelerou. Eu estava prestes a ter um ataque de pânico total.

Minha família nem sabia que eu estava namorando alguém, muito menos me casando com o solteirão mais rico de Nova York.

"O que você está fazendo aqui..." 

"Angela?" Papai chamou atrás de mim. "Quem é esse?"

Um poço de pavor se abriu em meu estômago quando ouvi minha família se aproximar atrás de mim.

"U-um, esse é-" Xavier deu um passo ao meu lado, seu comportamento cruel e zombeteiro desapareceu em um piscar de olhos.

Ele passou um braço em volta da minha cintura e sorriu para mim, sua expressão exalando amor e carinho. Ele parecia a definição do parceiro perfeito. Mas eu sabia melhor. Ele me odiava. Seu toque parecia mais uma algema do que um abraço.

Senti os olhares de meu pai e meu irmão se concentrando no gesto, e meu rosto queimou de constrangimento e vergonha. "Eu sou Xavier", disse meu algoz, sua voz macia como manteiga. "Eu sou o noivo da sua filha."