Colisão

"Eu não sou uma criança! Sou uma guerreira melhor do que, bom… do que TODO MUNDO! Você não pode me segurar para sempre!", gritei para o meu pai.

Seus olhos castanhos escuros encararam os meus com raiva. Seu cabelo preto estava bagunçado por causa das muitas vezes que ele passou a mão por ele.

Meu cabelo preto não parecia diferente. Já tivemos essa conversa um milhão de vezes antes.

Meu pai sempre tentou me proteger e eu só quero ser livre.

"Se você não é uma criança, não aja como uma." Olho para minha mãe pedindo ajuda.

Olhos azuis se fitam e pude ver imediatamente que ela também não queria me deixar ir. "Os guerreiros são fortes e não são mulheres."

Ainda estou olhando para minha mãe e posso ver o choque rastejar em seu rosto. Ela se vira, de costas para mim e encara meu pai com raiva.

"Como é? O que exatamente você quer dizer com 'guerreiros não são mulheres', hein?!" Papai esfrega o rosto enquanto solta um suspiro profundo.

"Baby, eu não quis dizer isso", diz ele com uma voz açucarada. Minha mãe, no entanto, é tão feroz quanto eu – ou, bom, eu sou tão feroz quanto ela.

"Acho que suas palavras muito claras não deixaram espaço para mal-entendidos. Quer saber? Escolha dez guerreiros para Katelynn lutar. Se ela ganhar, pode ir. Se perder, ela não vai."

O tom da minha mãe diz que não há espaço para discussão, então meu pai não argumenta. Ele simplesmente assente enquanto me dispensa com um aceno.

"Você ouviu sua mãe. Vá se preparar, a luta será em uma hora." Soltei um grito agudo e abracei minha mãe por trás.

Subi as escadas para o meu quarto.

Usei meu poder de bruxa para abrir a porta do meu quarto e não ter que parar de correr.

Peguei minha escova e fiz uma trança francesa no meu cabelo.

Quando terminei, entrei no meu closet para pegar alguns equipamentos de luta.

Minhas calças são uma legging de couro que parece uma segunda pele.

Coloquei um top e estou pronta.

Quando verifico o relógio, vejo que apenas dez minutos se passaram.

Ando de um lado para o outro no meu quarto.

Eu ganharia.

Eu nem tenho que me transformar.

Eu vi todos os guerreiros treinarem desde pequena, treinei junto com eles.

Conheço seus movimentos; conheço suas posturas e seus ataques-surpresa.

Eles, no entanto, não conhecem os meus, já que meu treinamento de bruxa é diferente do meu treinamento de loba.

Verifico o relógio, mais meia hora.

Decido ir encontrar Lucy, minha melhor amiga.

Lucy é o oposto de mim.

Ela não gosta de lutar, ela odeia o treinamento.

A personalidade dela é idêntica à minha, apenas temos interesses diferentes.

Eu nem me incomodo em bater na porta dela enquanto entro em seu quarto.

Lucy mora conosco.

Ela nasceu um dia depois de mim, mas quando completou dez anos sua mãe morreu de câncer.

O pai dela é um guerreiro e não pode cuidar dela o tempo todo, então ela veio morar conosco.

"Lucy! Finalmente consegui! Mamãe conseguiu. Papai disse algo para irritá-la, então ela me permitiu lutar com dez guerreiros. Se eu ganhar, vou patrulhar!" Lucy revira os olhos atrás de sua mesa.

Olho para os livros na frente dela, é claro, ela está estudando. Eu me mexo na frente dela para me sentar em sua mesa, bem em cima dos livros.

"LUCYYY. Fique feliz por mim", digo com um beicinho. Ela suspira e se inclina para trás.

"O Encontro de Parceiros é na semana que vem; você acha que seu parceiro vai deixar você ser uma guerreira?", Lucy diz com tédio.

Ela ouve minhas birras há dez anos. Desde os doze, quero ser uma guerreira. Treinei duro todos os dias, sete dias por semana.

"Não vou encontrar meu parceiro e, se encontrar, é melhor ele não tentar me impedir. Aposto que ele seria forte também." Há um excesso de confiança na minha voz, mas não me importo.

Finalmente estou aqui, a caminho de me tornar uma guerreira e ninguém vai me impedir.

Eu poderia ter sido guerreira aos dezoito anos se meu pai tivesse permitido, o que ele não fez.

Os olhos de Lucy suavizam quando ela me encara com um sorriso.

"Espero que você consiga tudo o que deseja. Mas muitas vezes não vai do jeito que pensamos." Ela me dá um breve abraço, antes de caminhar até seu armário.

Lucy é mais feminina do que eu, seu armário está cheio de vestidos e saias. Ela pega um vestido rodado branco com flores azuis na saia.

"Vou torcer por você enquanto você acaba com eles", diz ela com um sorriso antes de colocar o vestido.

Seu cabelo castanho encaracolado dança ao redor de seu rosto enquanto seus olhos verdes olham para mim.

Olho para o relógio e vejo que faltam apenas quinze minutos.

Pulo da mesa e digo a ela que vou descer.

Quando saio no nosso quintal, que é um enorme campo cercado de árvores, vejo meus pais e os guerreiros já parados ali.

Alguns dos guerreiros são transformados em lobos enquanto outros permanecem na forma humana.

Eu não vou me transformar, nem preciso.

Chego perto de Marcel, um dos guerreiros de quem me aproximei ao longo dos anos.

Ele é um dos melhores que temos.

Quando nos enfrentamos, ele muitas vezes me dá uma surra, mas me ensina muito também.

"Ei, rebelde, você finalmente conseguiu convencê-lo, hein?", ele diz com um sorriso enorme. Eu sei que ele ficaria feliz por mim; ele sabe há quanto tempo eu queria isso. Meu rosto imita o dele enquanto aceno alegremente.

"Vou acabar com você hoje!" Mostro a língua para ele. "Veremos, rebelde. Veremos."

Ele se afasta para se juntar ao pai novamente e eu me viro quando o cheiro de Lucy chega até mim. Ela está linda como sempre. Olho para mim mesma e dou de ombros. Bom, as guerreiras não precisam ser bonitas.

Meu pai bate palmas para chamar nossa atenção. Todos se voltam para ele. Percebo que alguns dos membros do nosso bando decidiram assistir. Quase quarenta pessoas estão ao nosso redor.

"Estamos aqui para um pequeno teste. Dez guerreiros vão lutar contra minha filha, Katelynn. Se ela derrotar todos eles, começará como uma guerreira inferior. Mas vamos fazer as coisas um pouco diferente agora. Ela vai lutar contra todos os dez guerreiros ao mesmo tempo."

Ouço alguns suspiros e alguns membros olham para mim com pena. Mantenho minha cabeça erguida e faço uma carranca. Como se eu não pudesse lidar com todos de uma vez.

"Que comecem as lutas", termina meu pai.

Os dez guerreiros estão alinhados.

Todos os outros guerreiros são transformados em seus lobo, enquanto o resto ainda estão em sua forma humana.

Estou a cerca de 100 metros de distância deles.

Mantenho minha cabeça erguida, sorrindo maliciosamente.

Eu os vejo me olhando com cuidado.

Aposto que eles não gostariam de machucar a filha do alfa.

Estico meu dedo e gesticulo para eles virem até mim.

Marcel é o primeiro a dar um passo à frente em sua forma humana.

Dois lobos caminham com ele.

Eles me dividem e me cercam.

Fico parada enquanto uso meu nariz para rastrear sua localização.

Eles se movem silenciosamente sobre a grama.

Marcel ataca.

Ele pula e estende o punho.

Já vi esse movimento muitas vezes, ele usa todo o seu peso para socar.

Caio de costas e coloco minhas mãos para cima.

Uma força o derruba.

Posso ouvir o resto vindo para a frente também.

É um jogo de abaixar e rolar enquanto tento me proteger de seus socos e mordidas.

Dou socos nos seres humanos, usando minha magia para bater mais forte.

Em poucos minutos, quatro dos humanos estão nocauteados e estou mais uma vez sendo circulada.

Desta vez por cinco lobos e Marcel.

Eles se movem em uníssono, todos dando passos ao mesmo tempo.

Lentamente ando em um círculo sorrindo para cada um deles, boto minha mão no chão e uma parede de fogo aparece.

Um dos lobos, o mais novo, geme e se afasta.

Sei que ele tem medo de fogo depois de ter queimado o braço.

Dois lobos em lados opostos saltam por cima da minha parede e eu me abaixo, fazendo-os bater um no outro.

Rapidamente rolo para trás antes que eles batam em mim.

Uma dor atravessa minha perna quando um dos lobos restantes afunda seus dentes nela.

Rapidamente engrosso a parede ao nosso redor para evitar que Marcel e o outro lobo entrem.

O lobo solta minha perna enquanto rasteja sobre mim.

Seus dentes afundam no meu ombro causando mais dor.

Solto um grunhido enquanto o aperto com força em seu pescoço com meus braços.

Enterro minha cabeça ao lado de seu rosto e então me mexo.

Antes que o lobo perceba o que estou fazendo, já tenho meus dentes em seu pescoço.

Uso minhas patas traseiras para nos fazer rolar.

Uso meu peso para mantê-lo no chão e afundo meus dentes ainda mais no seu pescoço.

Ele geme e posso sentir seu corpo se transformar debaixo de mim.

Quando ele fica em sua forma humana, saio de cima dele e o jogo através do fogo.

O fogo diminui quando ele o atinge.

Não quero ferir nenhum deles permanentemente.

Quando olho para trás, as pernas de Marcel já estão no meu pescoço, dificultando minha respiração.

O último lobo me morde na mesma perna.

Soltei um uivo, ficando brava por estar machucada.

Meu uivo é interrompido quando Marcel aperta ainda mais forte.

Eu chuto o lobo em minhas pernas no rosto enquanto me deito em Marcel.

Eu rapidamente me levanto jogando minha cabeça para cima e para baixo enquanto Marcel bate no chão.

O golpe afrouxou suas pernas e uso isso para virar minha cabeça e mordê-lo.

Rapidamente o solto quando percebo que o outro lobo está pulando.

Viro minha cabeça para ele e uivo, um uivo carregando minha magia, e ele também é atingido por uma força.

Eu me viro e vejo que Marcel está se contorcendo, tentando controlar a dor.

Uso minha posição alta para rosnar para o último lobo.

O lobo abaixa a cabeça em submissão.

O estalar de ossos chama minha atenção, eu me viro. Marcel agora se transformou em seu lobo.

Seu lobo é um pouco maior do que eu.

O único som que ouço é o vento enquanto Marcel e eu nos olhamos nos olhos.

"Nada de bruxaria. Uma luta justa, você e eu."

Aceno em concordância com sua mensagem mental e tomo a posição para atacar.

Pulo em direção a ele e desta vez ele se vira de costas.

Meus dentes afundam em seu pescoço e os dele afundam nos meus.

Posso sentir a dor me atravessar, então mordo mais forte.

Giramos no chão algumas vezes, ele tentando ficar por cima e eu fazendo o mesmo.

Acabamos com ele em cima de mim.

Seus dentes no lado esquerdo do meu pescoço, enquanto eu o seguro pelo direito.

Suas patas em ambos os lados da minha cabeça.

Eu rapidamente o soltei para morder sua pata dianteira, quebrando-a.

Ele choraminga de dor, me soltando.

Eu o empurro para longe de mim, agora estou sentada em cima dele.

Eu poderia jurar que ele piscou, mas antes que eu possa perguntar, ouço a voz do meu pai.

"PARE!" Largo Marcel para enfrentar meu pai. Eu me transformo, olhando para ele. "Katelynn, você ganhou", diz ele com uma voz derrotada.

Os membros do bando ao nosso redor começam a aplaudir.

Lucy me puxa em um abraço apertado, um pouco apertado demais para o meu corpo dolorido, mas eu não me importo.

Tenho o maior sorriso de todos os tempos no meu rosto e se minhas pernas não doessem tanto, eu estaria pulando.

Uma mão bate no meu ombro e viro a cabeça para ver Marcel.

Solto Lucy e rapidamente curo suas feridas.

Marcel me puxa para um grande abraço.

"De nada, rebelde", ele sussurra em meu ouvido. Eu me afasto e olho para ele em confusão, mas ele já está indo encontrar sua parceira, que estende roupas para ele.

Minha mãe vem até mim, me cobrindo de beijos enquanto ela diz um milhão de parabéns.

Ela estende uma calça de moletom e uma regata, que visto rapidamente.

Eu ganhei!

Sou uma verdadeira guerreira!

Ah, meu Deus, mal posso esperar.