FML: Mestre dos Metais

Livro Cinco: Mestre dos Metais

Caro leitor.

...Não.

Eu não vou me apresentar.

Que ridículo.

Isso é errado, preciso discutir com o Encantado. Se eu tiver que fazer uma reclamação no RH, eu vou fazer.

Tenho muita coisa pra lidar sem essa brincadeira que provavelmente foi armada pelo departamento de contabilidade.

Imagine um bando de nerds se divertindo fazendo coisas que só eles fazem, como forjar cartas falsas da Fada Madrinha LTDA e entregá-las à equipe, como se estivessem no ensino fundamental.

Estou confusa sobre por que eles não estão me deixando sair desse confessionário.

Então, eu vou sentar aqui.

Quero dizer, quem liga pro fato de eu ser uma funcionária essencial cem por cento do tempo? Quando eu descobrir quem me trancou aqui, essa pessoa vai ter o que merece.

Vou liberar uma quantidade profana de dor e sofrimento sobre o idiota que achou isso engraçado. Nada me impede de pegar um deles pela garganta e enfiar a cabeça em um vaso sanitário.

Já não é suficiente eu ter que aguentar as minhas roupas íntimas sendo roubadas diariamente?! Acho que ninguém prestou atenção às palestras da conferência de assédio sexual que todos tivemos que participar por uma semana inteira.

Outra coisa: todo mundo sabe que eu tenho sérios problemas pra controlar a raiva, e não vejo por que é engraçado sempre me zoar assim!

A porta ainda está trancada.

Alguém está vindo.

***

Ok, isso é hilário.

Agora eles estão me dizendo que o Encantado está vindo para o meu briefing.

Esse é o meu trabalho. Eu preparo as apresentações e me certifico de que os agentes metamorfos da Fada Madrinha LTDA estejam certificados e prontos para entrar em campo.

Eu tenho uma triagem pra fazer, pelo amor dos deuses!

A próxima missão está prestes a começar. Não posso ficar aqui panguando, eu sou necessária na equipe técnica. Alguém vai ser demitido — e não serei eu.

Aparentemente, eles não vão me deixar sair até eu dizer o meu nome para a câmera. Vou dizer o meu nome, mas isso não significa que os babacas do 5º andar serão perdoados.

Oi, meu nome é Zoya Romanovna, e estou bem chateada.

Agora, me tirem daqui.

Capítulo 1

"Eu quero respostas", eu grito, sentindo o meu corpo borbulhando com uma raiva tão potente que eu poderia tacar fogo na carta brilhante com o poder dos meus pensamentos.

Eu poderia ir a um cemitério e literalmente ressuscitar os mortos apenas com o meu olhar.

A equipe de filmagem se dispersa — covardes. Sinto tantos olhares em mim enquanto estou aqui com essa carta falsa e idiota em meu punho fechado, pronta para enfrentar o cuzão que achou que isso seria engraçado.

Eu tenho problemas para controlar a raiva e essas brincadeiras estão alimentando a minha necessidade de socar o rosto de alguém.

Eu sei que pareço estar exagerando.

Mas eu sou assim, mesmo.

A minha terapeuta repetidamente me disse para contar mentalmente até pelo menos vinte antes de proferir uma única palavra quando eu estivesse irritada.

Então eu estou aqui, no meio do corredor da Fada Madrinha LTDA, contando como uma idiota.

1, porra 2, caralho 3, buceta 4 ~—~

"Zoya", diz April, surgindo de repente ao meu lado em seu terno bege e saltos vermelhos. "Oh. Você está contando?"

"SIM", eu digo, olhando para a carta com uma carranca.

"Ok. Eu vou esperar, então," ela diz com um sorriso brega.

Eu a encaro. "O que foi?"

"Eu acho que é tudo real", ela diz, e faz uma pequena dança, com o seu cabelo preto curto balançando.

Ela deve estar brincando. É sério?

"Ah, pare com isso. Você sabe que isso é estúpido, você parece uma idiota," eu digo, e reviro os olhos, querendo que esse dia acabe já.

"O Encantado está vindo, pelo que a equipe de filmagem disse!"

"Ele. Não. Vem."

O Encantado não vem porque ele está muito ocupado com as novas agentes... que... acabaram de... chegar.

Eu olho para o meu relógio. Meu rosto empalidece um pouco, e noto todas ao meu redor, com olhares excitados em seus rostos e as mãos cobrindo a boca.

Eles têm que estar me tirando.

Isso tem que ser uma grande piada.

"Zoya, você pode me apresentar ao Encantado, por favor?!" ela pergunta, com o seu olhar pálido luminoso. "Tipo, super casualmente, e vou dizer que estou me candidatando para trabalhar no seu departamento como estagiária." Ela acena com a mão.

"Ou como você achar melhor... Não quero que seja estranho." Ela faz uma careta. "Tipo, 'Heeeey, Encantado. Posso te chamar de Encantado?

E então nós vamos rir, e eu vou colocar a minha mão no ombro largo dele e falar, 'Que demaaaaais.'" Ela faz uma pausa para recuperar o fôlego.

"Então, eu diria algo inteligente como, 'Então, eu gosto de roupas, você sabe, qualquer estilo de roupa que você faz... '". Ela franze a testa enquanto me olha em pânico. "Não me deixa dizer isso. Que estúpido."

Eu suspiro.

A April está obcecada pelo Encantado. Na verdade, sempre esteve.

"Basta manter a boca fechada e você vai ficar bem", eu digo, e luto contra um sorriso.

"Como está o meu rosto?" ela desabafa. "O Encantado nunca passa pelo~ setor cinco!" Ela está afofando o cabelo escuro, parecendo pálida.~

A April é impressionante. Mas o Encantado é um jogador e destruiria a pobre e doce April. Muitas mulheres aqui têm obsessões por ele, mas eu, pessoalmente, acho-o irritante.

Provavelmente é por isso que estou no time dele, na verdade. Ele não pode ter uma mulher apaixonada olhando para ele o dia todo.

"Aqui, jogue isso no lixo." Eu lanço a carta brilhante para ela. "O Encantado precisa de mim para rastrear os agentes metamorfos. Ele provavelmente está chateado por eu não estar lá.

Começo a andar, meus saltos de dez centímetros estalando rapidamente no chão de mármore, ignorando os sussurros e olhares. Eu olho para cima e vejo o próprio Encantado saindo pelas portas do elevador com um grande sorriso no rosto.

"Zoya!"

Eu congelo, a cor se esvai do meu rosto, meu coração bate forte.

Que porra é essa?

Encantado aponta para a April ao meu lado. – Becky, tire essa carta do lixo.

"Eu sou a April, senhor," ela gagueja, com as bochechas vermelhas, e então vai pegar a carta.

Eu vejo April entregar o papel amassado para o Encantado, com os olhos arregalados enquanto ela o encara. Encantado pisca para ela, e então se vira para mim com um sorriso cuzão no rosto.

"Ora, ora. O que temos aqui?"

"Essa merda não é verdade", eu sussurro.

"Não," ele sorri mais ainda, "é verdade? Você realmente acha isso?"

Eu olho para ele, sentindo o meu pulso martelando.

Impossível.

O Encantado está quase rindo enquanto se vira para os telespectadores do escritório.

"Quem aqui acha que essa carta é um convite da Fada Madrinha LTDA genuíno para a missão?!"

Assobios e gritos.

Posso sentir o meu rosto ficar vermelho.

O Encantado pisca para mim. "Zoya, minha querida, talvez eu deva te acompanhar até a sala de reuniões agora?"

"É real, então", eu sussurro.

Encantado se aproxima de mim. "Muito real. Eu já sei há um tempinho, na verdade."

Meus olhos se arregalam. "E você não me contou?!"

"Pra você fugir? Você sabe como levamos a sério as escolhas do nosso destino. Eu teria que sair por aí pra encontrar você, e estou tão sobrecarregado que não teria tempo pra isso", acrescenta ele com um olhar aguçado.

"É por isso que você manteve as informações dessa missão tão restritas."

Ele dá de ombros. "Não fique brava – er, mais brava do que o normal, né."

"Eu pensei que ia ser mandada embora", digo baixinho para mim mesma.

Ele me nivela um olhar. "Nunca. Você é uma das nossas melhores funcionárias. É por isso que estou intrigado por que você foi escolhida para essa missão em particular.

"Merda", eu murmuro, e paro por um momento. "Eu não sou obrigada a assinar o contrato, Encantado. Eu tenho a opção de recusar. Eu amo o meu trabalho aqui."

Não quero competir com outras mulheres por um maldito homem.

E essas missões são DIFÍCEIS.

"Venha comigo." Ele sorri e me dá aquele olhar misterioso que é a marca registrada do Encantado. Eu cerro os dentes enquanto sigo. Encantado tem aquele charme que é tão irritante, mas também é irresistível.

"Encantado! Oi... prazer em te conhecer!" Eu ouço a April falar atrás de nós, e então ouço um xingamento.

Encantado se vira levemente em sua direção e sorri. "Pam, ótimo trabalho." Então, ele continua andando, e de alguma forma eu acho que o Encantado chama as pessoas de nomes errados de propósito.

Eu vejo a lógica na loucura dele.

"É April!" mal ouvimos.

Entramos em uma grande sala e cruzo os braços. "Você vai tentar me convencer, então?"

"Eu não preciso fazer isso."

Eu levanto uma sobrancelha. Estou falando com o próprio ninja controlador das mentes, então preciso ser cautelosa. "Porque você vai me demitir", eu respiro, "se eu não aceitar?"

Seu olhar azul puro se alarga. "Zoya, eu não sou um monstro."

Eu dou a ele um olhar duro.

"Na verdade, eu estava preparado pra que você não aceitasse." Ele dá de ombros e se vira para se sentar em um sofá branco, com as mãos cruzadas atrás da cabeça. Encantado suspira.

"Quero dizer, quem gostaria de ter umas férias de três meses longe da firma de contabilidade do quinto andar que tem a sua foto colada em todos os cubículos?"

Ah, ele está jogando sujo.

"E quem disse que você tem que se apaixonar? Pense nisso como se você fosse uma agente dupla indo para o campo, para uma pequena aventura," Encantado diz levemente, com um brilho estranho em seu olhar.

Eu mordo o meu lábio. "Eu não confio em você."

"Ai." Encantado sorri como se estivesse amando tudo isso.

Eu bufo. "Você vai me deixar muito gostosa, né? Eu sei como é, Encantado."

Ele levanta uma sobrancelha. "Zoya, você já ééééééé ~gostosa. Nem vem."~

Eu balanço o meu dedo para ele. "Não, você coloca a sua porcaria mágica nas mulheres e torna os homens estúpidos."

"Zoya, estou lisonjeado." Ele ri levemente. "Mas não são as roupas que fazem um homem ficar com os joelhos fracos, Zoya. Confie em mim. Eu sou bom no meu trabalho por um motivo, e também sou homem."

"Então, o que é?" Eu pergunto. "Minha maldita personalidade sedutora? Provavelmente eu assustarei todos que encontrar."

"Se você está tentando acertar o alvo principal, mas nós temos muitas garotas para isso." A boca de Encantado se contorce. "Mas você é peculiar, e às vezes é exatamente isso o que o destino quer."

"Mas que porra", eu murmuro.

Ele se inclina, com os cotovelos apoiados nos joelhos. "Eu preciso de você nessa missão, mas você já sabe disso." Encantado inclina a cabeça para mim como se estivesse tentando ler a minha mente.

"Já que você tinha me deixado no escuro ~sobre isso, onde vai ser? Num mundo fodido? Onde eu posso ser um pequeno troll verde?~

Os olhos de Encantado estão brilhando. "Esse mundo é um dos meus favoritos em relação à moda e vida noturna. Alturas da Euforia. Sacou?"

Meus olhos se arregalam e eu faço força no meu cérebro. "Merda, não era o mesmo mundo que quase fizemos no ano passado, mas trocamos?"

"Esse mesmo." Ele pisca.

"A dança do swing, a utopia perfeita, o inferno dos anos 40?!"

Encantado assobia. "Você estava intrigada no ano passado - e não é um inferno, é bastante impressionante, na verdade."

"Quem é o cara? Eu quero ver."

"Não pode."

"Então, eu não vou assinar." Eu cruzo os meus braços.

Encantado levanta uma sobrancelha. "Pensei que você não se importasse com o alvo."

Eu não vou às cegas. De jeito nenhum.

"Essa é a minha condição."

"Decidida. Eu gosto disso."

"Quero a história completa dele agora." Eu estreito os meus olhos, e eu sei o impacto que isso causa. Eu poderia congelar água com esse olhar maluco. "Você quer que eu assine? Então você vai me dar informações privilegiadas."

Encantado se levanta e coloca os seus óculos. "Feito. Mas você assina primeiro."

Nós dois nos encaramos.

Minha vontade contra a dele.

Zora entra, e Encantado levanta a mão como se quisesse silenciá-la antes que ela pudesse falar e arruinar a corda que ele tem em volta do meu pescoço.

"Zoya. Assine, e eu te darei todas as informações que tenho."

Eu levanto o meu queixo. "Eu escolho o meu agente."

A mandíbula de Encantado flexiona. "Feito."

Eu não posso acreditar que isso está acontecendo.

Três meses.

Eu poderia aproveitar um tempo fora do escritório, certo?

"Eu nunca vi uma garota se arrependendo disso, Zoya", ele sussurra, como se estivesse tentando acalmar um animal selvagem em submissão. O Encantado segura uma caneta prateada para mim e me entrega o contrato amassado.

Fecho os olhos antes de mudar de ideia e pego a caneta da mão dele, com o coração acelerado.

"Encantado, você me deve uma."

"Tenho a sensação de que você me ~deve ~uma~.~" Ele pisca para mim. Reviro os olhos enquanto assino, e posso ouvir o alívio em sua voz. "Perfeito! Zora, posso pegar o arquivo do Dion Le'Rose?

Zora dá a Encantado um sorriso como se ela já soubesse o que ele queria.

Eu franzo a testa. "Você já sabia que eu queria o arquivo dele."

"É claro." Encantado pega o bloco virtual. "Só tinha que fazer você pensar que foi ideia sua, não minha."

Meu queixo cai.

Não tenho certeza se devo ficar impressionada ou com raiva.

"Pronto..."

Meus olhos se arregalam quando olho para o tal homem.

Eu mordo o meu lábio.

Desvio o olhar e percebo que estou em uma situação difícil.

"Dion Le'Rose, um gênio absoluto. Os pais morreram jovens e ele foi adotado por pais bilionários, Saffo Le'Rose e Eva." Ele olha para mim.

"Eles são donos do conglomerado Le'Rose Enterprises e fazem androides para o dia a dia, assim como outras máquinas."

"Huh. Então esse tal Dion é o cérebro dos negócios?"

"Sim, mas ele está muito bem escondido. O FBI não tem nada sobre ele – ainda. Temos que manter as coisas assim até que possamos..."

"Mudar o coração dele para mudar os seus modos impertinentes", a Fada Madrinha entra na conversa com um aceno de cabeça.

"Certo", diz Encantado. "Acho que o Dion está secretamente lascando as pessoas para controlá-las, de certa forma. Não temos muitas informações sobre isso."

Eu belisco a ponta do meu nariz. "Então, esse lugar está cheio de androides perfeitos e pessoas reais?"

"As pessoas reais também estão sendo lascadas, sem perceber que o Dion pode controlá-las", acrescenta Encantado. "A ideia é fazer as pessoas agirem mais... perfeitas. Sacou?"

"Isso está bem confuso."

"Pois é. E é aí que a Fada Madrinha LTDA entra em cena." Ele sorri para mim.

Estou um pouco intrigada.

Meus olhos se fixam no corpo de Dion, e eu estaria mentindo se dissesse que o homem não estava fazendo o meu cérebro não... pensar direito. Ele tem uma aparência muito, muito linda, como se conhecesse bem o apelo que tem.

Murmurando para mim mesma, eu respiro. Eu ignoro a sensação estranha na boca do meu estômago. "Qual é a desse olho vermelho?"

"Achamos que ele é metade máquina ou tem um olho robótico. Temos poucos dados sobre ele, e é por isso que vamos obter mais informações à medida que a missão avançar." Encantado olha para Dion.

"Dança e música são tudo nesse mundo, então eu seria inteligente sobre as suas três características para mudar."

Eu expiro.

"Encantado," eu digo, "por que eu tenho a sensação de que isso vai doer?"

Encantado ri e pega na minha mão. "Bom, vamos conhecer as outras garotas." Ele abre a porta e olha para mim. "Quem disse que misturar dor com prazer não é bom, mentiu."

Que ótimo, porra.