Um Acordo com o Alfa

Dezenove anos atrás

Ela era sua primeira filha, e seria a última.

Sua luna estava morta, graças ao chamado pacotinho da alegria de um ano, cabelos castanhos e olhos verdes engatinhando pelo chão da sala.

Ele não podia olhar para ela sem enxergar sua amada, uma combinação de profundo amor e dor agonizante correndo em suas veias.

Sua esposa se foi. Ele nunca a abraçaria novamente. Seus planos para o futuro nada além de sonhos irrealizáveis.

Ele ficou animado quando soube da gravidez de sua luna. Eles mal podiam esperar para conhecer sua bebê. O quartinho foi decorado, o nome escolhido; tudo estava definido. A única coisa que restava era dar à luz.

A dor em seus olhos ficaria para sempre gravada em seu cérebro. Sua luna lutou muito para empurrar seu bebê para o mundo. Horas e horas de trabalho de parto, mas ela nunca reclamou. Ela sabia que tudo valeria a pena.

Mas não valeu, não para Andres.

O som de sua esposa dando seu último suspiro ao mesmo tempo em que sua filha deu seu primeiro ainda é um momento que ele não consegue aceitar.

Em vez de comemorar a chegada da filha, ele a amaldiçoou. Ela levou sua luna embora, e ele nunca a perdoaria por isso.

Demasiado perturbado com a morte da esposa, Andres não era de nenhuma utilidade para sua matilha. Sua habitual personalidade de aço foi destruída no momento em que sua luna sucumbiu, deixando o bando vulnerável aos inimigos.

Seu rival mais perigoso, alfa Stone, do bando Blue Crescent, não perdeu tempo planejando e executando com sucesso um ataque.

A única coisa que impediu que a matilha Sun fosse completamente destruída foi o acordo que Stone ofereceu. De modo algum a oferta foi um exercício de empatia; foi um ato de desdém.

O que Stone queria, mais do que a morte de Andres, era a sua infelicidade.

A melhor maneira de machucá-lo, e a única maneira de evitar a aniquilação total e completa do bando Sun, era desistir da coisa mais próxima que Andres tinha de sua amada.

E assim aconteceu.

Alfa Andres, da matilha Sun, prometeu sua filha ao próprio diabo.

***

AUTUMN

Dias atuais

"Autumnnn", Nan me chamou.

Nan era a figura materna na minha vida e na de Dion.

Como me disseram, quando mamãe faleceu, papai ficou totalmente devastado. Ele não estava com a cabeça no lugar para cuidar de seus dois filhos, então ele contratou Nan.

Até alguns anos atrás, ela estava sempre em nossa casa. Embora, hoje em dia, ela ainda venha ficar comigo e com Dion.

Eu achava que ela ainda não tinha aceitado bem o fato de que Dion e eu não éramos mais crianças, então ela estava sempre dando desculpas para vir e nos incomodar sobre sermos mais limpos, mais inteligentes etc.

Mas, na maioria das vezes, Dion nem estava em casa. Ele estava constantemente ausente em missões "importantes" para lugares diferentes e sei lá onde mais, enquanto papai estava sempre ocupado cuidando da matilha.

Por isso, eu ficava sozinha a maior parte do tempo, com apenas algumas pessoas e livros para me fazer companhia.

De vez em quando, eu me perguntava como seria ter uma mãe. Talvez eu não estivesse tão sozinha se ela estivesse comigo. Talvez papai não me tratasse como se eu fosse um peso em seus ombros.

O último desejo da minha mãe era que eu crescesse uma mulher gentil e forte, e foi o que aconteceu. Eu era como ela, exceto que me faltava severamente sua graça e suavidade.

Bufei, aborrecida. Quem precisa desses traços? Sim, uma luna, mas, graças à Deusa, eu nunca seria uma já que Dion é mais velho do que eu.

Ele seria o alfa do nosso bando depois que papai decidisse se aposentar. Sacudindo esses pensamentos da minha cabeça, respondi para Nan.

"Oi!"

"Eu preciso que você esteja aqui embaixo em trinta minutos!"

Gritei de volta um ok e ela continuou a cozinhar sua receita favorita: um prato chinês que adoramos.

Hoje era um dos poucos dias do ano em que fazíamos uma refeição em família. Meu pai disse que tinha algo importante para me dizer, algo que tinha a ver com meu vigésimo aniversário chegando.

Meus níveis de curiosidade estavam no auge. Talvez ele quisesse me dar minha própria casa para que eu pudesse finalmente sair de sua vida?

Minha imaginação fugiu da realidade enquanto eu pensava em começar uma nova vida, longe desta matilha e do grande vazio que eu sentia aqui.

Esse não era apenas o meu sonho, mas também o do meu pai. Ele me via como um fardo. Ele estava rezando para que eu fosse embora logo, provavelmente depois do meu aniversário.

Aniversários de vinte anos são especiais para nós, lobisomens, porque conseguimos sentir nosso vínculo de acasalamento nesse dia. Ou seja, somente se ambas as partes forem maiores de idade.

E, como qualquer outra garota, eu estava animada, mas não tanto quanto minha melhor amiga Rin. Ela não conseguia parar de falar se seu companheiro se pareceria com Shawn Mendes, enquanto eu era uma garota mais do tipo Austin Butler.

Eu me perguntava onde eu moraria depois que encontrasse meu companheiro. Nossa casa atual era grande, já que meu pai era o alfa. Sempre achei desnecessário termos dez quartos e três andares.

Um jardim embutido fazia parte do nosso telhado, mas eu passava a maior parte do meu tempo na biblioteca ou na sala de treinamento da matilha.

Como muitas outras garotas do nosso bando, eu sabia me defender e treinava alguns dias da semana.

Eu gostaria de ser tão boa quanto alguns dos treinadores do nosso bando. Depois de algumas sessões de treinamento extenuantes com eles, percebi que ainda tinha um longo caminho a percorrer.

Mas eu tinha certeza de uma coisa: eu não confiaria em um homem para me proteger quando eu fosse mais do que capaz de fazer isso sozinha.

Afastei qualquer sentimento de ansiedade e peguei meu livro favorito da estante. Ler era meu apaziguador do estresse; me ajudava a escapar da minha vida chata e mergulhar em um mundo que eu gostaria que existisse.

A partir de agora, eu estava relendo A Corte de Espinhos e Rosas. Dion sempre tirava sarro da minha obsessão por este livro porque, ai, meu Deus, eu era ~apaixonada~ ~por Rhysand.

Olhei para a hora e quase pulei para fora da minha pele de ansiedade. Era oito da noite e eu estava atrasada para o jantar. Juro que só li por alguns minutos.

Pulei da cama e desci rapidamente as escadas, com medo de irritar meu pai por chegar atrasada.

Parei diante dos rostos sombrios de meu pai e Dion. Dion estava sempre rindo e contando piadas, então a situação parecia bastante estranha para mim.

Meu pai, por outro lado, estava constantemente sério e só me dava respostas monossilábicas.

Meu coração batia rapidamente no meu peito. Tive a sensação de que estava prestes a receber notícias que não gostaria.

"O que foi? O que aconteceu?", perguntei rapidamente, minha língua parecendo terrivelmente pesada na minha boca repentinamente seca.

"Nada. Sente-se", foi a resposta áspera que recebi do meu pai.

Como sempre, ele não fez contato visual comigo. Eu tinha me acostumado com esse comportamento, então não me incomodava tanto agora.

Meus instintos me diziam que algo estava muito errado; ainda assim, cautelosamente fui para a mesa de jantar. A tensão no ar era espessa, mas eu sabia que papai falaria quando decidisse que era a hora certa.

No meio do jantar, Dion murmurou um "sinto muito" para mim com um olhar de pena no rosto. Minha confusão só aumentou.

Empurrei minha comida no meu prato, e as garfadas que eu já tinha dado pareciam pedras pesadas na minha barriga.

Finalmente, meu pai falou.

E ele me deixou sem palavras. A pequena parte de mim que esperava que o amor do meu pai por mim ainda existisse foi esmagada.

"Daqui a dois dias, você vai para o bando Blue Crescent. Você ficará lá por um ano, então comece a fazer as malas. Você deve embarcar em um voo de quinze horas.

"Apenas saiba, isso não está em negociação."