FML: O Príncipe das Profundezas

Livro Quatro: O Príncipe das Profundezas

A lua também mente.

Quero ficar com raiva, mas não tenho energia pra isso.

A lua tem essa capacidade milagrosa de produzir uma quantidade anormal de excitação nas suas vítimas, lançando um véu de engano sobre todos.

Essa excitação leva ao mau julgamento, ignoramos os sinais de alerta, embriagados pelo êxtase e pela emoção do momento.

Você sabia que o sangue brilha como diamantes ao luar?

Tons profundos de preto e toques impressionantes de escarlate me deixam em transe. Apenas uma lua cheia poderia produzir tal esplendor.

Eu reflito enquanto respiro com dificuldade.

Essa cor poderia ser chamada de traição.

Acho que a maioria das pessoas concordaria que, ao atribuir esse nome à cor do sangue, eu estou certa.

Olho para cima, vejo a esfera luminosa no céu noturno, e percebo que a lua cheia não é um convite, mas sim um aviso terrível.

Já ouvi dizer que coisas ruins acontecem na lua cheia. Você deve ficar dentro e trancar bem todas as portas.

Bem, se ela tem a capacidade de transformar um mero homem em um lobo de três metros, então esse ditado é verdadeiro. Talvez se eu tivesse me lembrado disso antes, eu não teria baixado a guarda.

Eu rio mentalmente, sentindo o gosto de sangue metálico na minha língua enquanto tusso.

As minhas passagens para Paris agora são uma pilha de papel picado ao meu lado, representando bem os sonhos frustrados da minha vida luxuosa.

Esse foi o show de uma vida, um trabalho pelo qual trabalhamos muito nos últimos três anos. Sendo tão cuidadosos, aprimorando as nossas habilidades quase até a perfeição.

O Lucas tinha me prometido que esse seria o nosso último trabalho, com um pagamento além da nossa imaginação. Diamantes. Milhares de diamantes.

Bem, ele estava mais ou menos certo – esse seria o meu ~último trabalho, mas não o dele.~

O Vetrov Yankovich tinha sido a minha presa russa essa noite. O bilionário bissexual era perfeito, com muita sede de poder e extravagância. Seus famosos harém e orgias gigantes o tornaram um alvo fácil, uma missão clara.

Vetrov e eu compartilhávamos os mesmos sentimentos pela riqueza e pelas coisas mais belas da vida. Nós nos tornamos amigos rapidamente e nos encontramos nos mesmos círculos sociais, o que facilitou as coisas.

Eu posso dizer que sempre gostei do bom e do melhor.

Desde pequena, meu pai sempre me mimava com presentes luxuosos. Ele era um infame traficante e tinha mais dinheiro do que ele conseguia gastar.

Mas quando ele morreu, eu não consegui me afastar da vida que eu conhecia tão bem e amava. Eu precisava, ansiava... Eu queria toda a extravagância do mundo.

E eu fiz o que tinha que fazer para manter esse estilo de vida.

Eu roubo coisas caras dos bilionários. Mas eu fui fodidamente estúpida ~essa noite, por falta de uma palavra melhor.~

O Lucas provavelmente está em um voo só de ida pra bem longe, bebendo champanhe enquanto recebe uma massagem nos ombros para aliviar a culpa e a tensão que ele deve estar sentindo. Eu faço um som de desgosto.

Não é fácil ser um monstro.

Otário.

Ainda me lembro de olhar para a lua brilhante com um sorriso bobo nos meus lábios vermelhos, com o meu vestido brilhante balançando na leve brisa.

A emoção e a adrenalina ainda estavam correndo nas minhas veias, alimentadas por essa energia que eu estou sentido.

Conseguimos,~ pensei.~

Na minha bolsa havia mais de trezentos milhões de dólares em diamantes preciosos. Lucas e eu fomos impecáveis, passando pela segurança como dois ladrões experientes.

Esse assalto foi executado com precisão e um talento extremo que levamos anos para dominar. O Vetrov provavelmente não notará as falsificações no seu enorme cofre, pelo menos não por um tempo.

Mas eu não estava focada na ameaça real.

A ameaça estridente que me dizia que ele me amava ~e que me compraria a lua, se pudesse.~

Que apropriado... a lua. Uma coisa tão misteriosa.

Eu me pergunto quantos alertas vermelhos eu ignorei essa noite, tipo quando ele estava no telefone e logo desligou quando eu olhei na sua direção.

Ou quando ele me disse que deveríamos fazer voos separados para não chamar atenção demais.

Pensando melhor, ele estava distante ultimamente. Mas eu pensei que era só o nervosismo, a obrigação iminente de fazer esse trabalho sem culpa.

Eu fui tão imprudente que nem consigo ficar brava como Lucas. Eu deveria ter sacado tudo muito antes. Agora a minha vida na riqueza será apenas uma vaga lembrança.

Pobre Camila.

Pobre Camila...

"Camila," Lucas disse, vindo até mim com um sorriso largo e arrojado como sempre, "você está com a bolsa?"

Eu sorri de volta para ele, com o beco nos escondendo de olhos curiosos. "Depende."

Seu terno preto combinava com a escuridão ao nosso redor. "Do quê?" Ele ainda estava sorrindo. "Você vai embora da cidade sem mim?"

"Nunca", eu disse rápido demais. "Mas eu quero o maior anel de diamante que existe", eu ronronei, com os meus braços serpenteando ao redor do pescoço dele.

"E você terá, mi reina."

Minha Rainha.

Aff

Ele sempre me chamava de sua rainha, algo que eu achava muito cativante – bom, ou pelo menos eu achava.

Minha visão embaça por um momento, mas logo volta ao normal.

Lucas agarrou o meu rosto e me beijou apaixonadamente, dizendo: "Vou levar a bolsa, cariño."

Lembro de franzir a testa. "Pensei que tínhamos decidido que eu levaria?"

"Eu não quero que você se arrisque. Deixa eu cuidar disso."

Eu sorri para ele, pensando que esse homem deve realmente me amar para me proteger assim, e entreguei a bolsa – assinando, assim, a minha sentença de morte.

A faca no meu estômago surgiu tão rápido que eu ainda estava em choque quando ele me beijou novamente, dizendo o quanto estava arrependido antes de me empalar com mais força.

Ele me colocou lentamente no chão e beijou a minha cabeça pela última vez.

Ele me disse que isso doía mais nele do que em mim, e foi embora sem olhar para trás...

Mais lágrimas escorrem pelo meu rosto enquanto sinto o meu coração batendo contra o meu peito, com força. Deixo a minha cabeça cair para trás e espero que a escuridão me consuma.

Talvez eu consiga ver o meu pai novamente, e possamos rir juntos sobre as nossas escolhas de vida idiotas...

Passos.

Eu os ouço ecoando.

Esperança.

Abro as minhas pálpebras pesadas enquanto um flash de adrenalina percorre o meu corpo.

"So... corroooo," eu tento ofegar. Não tenho certeza de quanto sangue eu perdi, mas sei que tenho apenas alguns minutos restantes.

Eu tento focar a minha visão quando vejo uma figura alta e corpulenta parar na minha frente.

Eu olho para ele, me perguntando por que ele não está gritando por ajuda ao ver o meu estado físico.

"Senhor", eu gemo. "Ajuda. Socorro!"

Ele se ajoelha bem na minha frente, suas feições entram em foco. Ele é muito bonito, eu percebo, mas não o reconheço.

O homem inclina a cabeça para mim com um sorriso brilhante. "Camila, é você? Quase não te reconheci com essa peruca."

Eu franzo a testa para ele.

Ele me conhece?

E por que ele está falando comigo como se eu não estivesse morrendo?!

O homem balança a cabeça e levanta a mão. "Você não tem que responder. Vejo que você se meteu em apuros."

Apuros?!

Esse cara é doido? Estou prestes a morrer!

"Socorro", eu suspiro. "Eu fui esfaqueada."

Por que ele está feliz? Todo sorridente?!

O homem franze a testa de repente e dá um passo para trás, para não sujar os sapatos com o meu sangue acumulado.

"Desculpe, esses são os meus sapatos favoritos", diz ele se desculpando, me deixando de queixo caído.

Ele me estuda com as mãos nos bolsos do terno, me fazendo pensar que ele poderia estar metido no mesmo problema que eu. Talvez ele saiba o que fizemos — quem sabe ele é um detetive, talvez.

"Eu sei que você está confusa e, honestamente, essa noite não foi muito boa pra você. Né?

Eu não consigo dizer nada.

Ele olha ao redor e, depois, olha de volta para mim. "Bem, Camila, a sua sorte está prestes a mudar. Tenho uma oferta para você, e o fato de você estar morrendo pode alterar a nossa missão, e não podemos aceitar isso.

Quando o destino escolhe uma garota para nós, levamos isso muito a sério." Ele me dá um olhar aguçado. "O universo depende de você... talvez. Você tem 20% de chance, na verdade. Mas, ainda assim."

Quê?

Devo estar alucinando.

Eu espero que ele diga "E BEM-VINDA AO INFERNO!" enquanto o fogo explode atrás dele e ele se transforma em um demônio horrível.

"Eu estou morrendo, ligue para o SAMU!" Eu imploro, como pontos pretos na visão.

Eu realmente não quero morrer. Eu quero vingança.

E esse homem é um lunático!

Ele balança a cabeça. "Não adianta nada. Você perdeu muito sangue, infelizmente. Se eu chamasse o SAMU, você chegaria ao hospital um cadáver frio e duro." Ele inclina a cabeça.

"Então, você tem que me ouvir com atenção. Eu tenho um trabalho para você, e se você assinar esse contrato...", ele agora está segurando um pedaço de papel brilhante, me fazendo pensar que já posso ter morrido, "eu vou salvar a sua vida".

"Eu estou morta?" Eu sussurro.

"Bem, ainda não," ele continua. "Estou tentando evitar isso, se você não percebeu."

As minhas mãos e pés estão dormentes enquanto eu olho para ele. "Você pode me salvar?"

Ele sorri e me estuda. "Claro que eu posso. Eu só preciso que você assine o seu nome, minha querida. A Fada Madrinha LTDA gostaria de te oferecer um emprego. Nós somos os guardiões do equilíbrio, sustentando o universo com a força do beijo do amor verdadeiro."

Eu olho bem para ele.

Ele está falando sério.

Ele disse Fada Madrinha LTDA?

Eu sou boa em ler as pessoas, bem, pelo menos eu achava que era. Talvez ele seja um médico? Um bilionário com um helicóptero? Alguém que pode magicamente me salvar?

"E-eu assino."

Eu sei que isso é ridículo, mas quem tá na merda não pode escolher.

Essa é a minha única esperança.

Ele segura a carta brilhante bem na minha frente e parece real. Tipo, real ~real. Eu sei que estou morrendo, mas algo me diz que estou realmente vendo tudo isso.~

Meus olhos captam o meu nome completo que está escrito na primeira linha.

Ninguém sabe o meu nome verdadeiro.

Ninguém.

Olho para o homem, com a respiração ofegante, e sinto os meus pulmões ardendo.

"Quem é você?" Eu sussurro, com admiração.

Ele pega uma caneta de seu terno perfeito e estende para mim. "Hoje é seu dia de sorte, Camila."

Eu tento pegar a caneta, mas o meu braço não se move.

O homem se aproxima e agarra o meu braço flácido, levantando-o. É estranho, mas posso sentir o cheiro de especiarias no perfume dele.

"Tenho a sua permissão para te ajudar a assinar?"

"Sim", eu sussurro.

Ele coloca a caneta em meus dedos flácidos e a guia para a carta brilhante, me ajudando a assinar o meu nome na linha pontilhada, na parte inferior. Tudo isso é uma bagunça, eu vejo sangue pingando no contrato mágico, mas está feito.

Eu olho para ele, esperando que ele peça ajuda.

Que ele faça qualquer coisa.

Ele se levanta rapidamente e toca a sua orelha como se estivesse conectado a algum equipamento sem fio, me confundindo.

"Randy, eu preciso de uma extração agora. Este é um código triplo X – equipe médica em espera." Ele olha para mim. "Camila. Quero te dar as boas-vindas oficiais à Fada Madrinha LTDA."

Acho que estou franzindo a testa.

Talvez ele seja um doido de pedra.

"Bem-vinda, Camila."

Estou prestes a cuspir palavrões para ele quando algo estranho acontece. Todo o meu corpo parece formigar e confuso, e antes que eu possa entrar em pânico...

Tudo fica totalmente PRETO. A última imagem que vejo é aquele homem estranho piscando para mim.