O Fim da Jornada - Capa do livro

O Fim da Jornada

S.L. Adams

Capítulo 2

STELLA

Fechei o laptop e empurrei minha cadeira para longe da mesa. Minha mente estava muito focada no homem do outro lado da rua. Não pude acreditar quando olhei pela janela e vi o Nate Miller sentado na varanda da frente da casa de seus pais.

Eu não tinha ideia de que ele voltaria para casa. A mãe dele não comentou nada quando veio emprestar ao meu pai a balança de mala, algumas noites atrás. Talvez tenha sido uma visita surpresa. Ele não vinha para casa há dois anos. E por que o Jackson Davis estava em Donaldsonville ao mesmo tempo?

Apaguei a luz e espiei pela cortina. Eles ainda estavam sentados lá, bebendo cerveja. Mas parecia que eles estavam tendo uma conversa séria. Eu balancei minha cabeça, enojada comigo mesma por ser intrometida.

Eu tinha coisas mais importantes em que pensar do que Nate Miller. Como conseguir um emprego. Porque havia muitas oportunidades para alguém com MBA em Donaldsonville, Michigan. Eu provavelmente acabaria sendo professora na universidade perto de Sault Ste. Marie.

Eu voltei para casa por me sentir culpada. Meu pai estava sozinho. Eu estive fora por cinco anos. Eu fui para Stanford quando tinha dezessete anos. Pulei uma série e me formei no ensino médio um ano antes, e depois conclui meu mestrado em cinco anos.

Toda a minha educação foi financiada por bolsas de estudo. Meu pai nunca teve que pagar um centavo e eu terminei os estudos sem nenhuma dívida. Eu poderia ir a qualquer lugar que eu quisesse. E eu voltei para casa, no fim do mundo dos EUA.

Então meu pai partiu para Las Vegas com seus amigos para um fim de semana só de homens. Inacreditável. Dois dias depois de voltar para casa, ele foi embora.

Meu estômago roncou, me lembrando que não tinha jantado. Eu estava prestes a descer para a cozinha quando a campainha tocou. Quem viria às oito horas da noite? Olhei pela cortina novamente. Não havia carro na garagem. E o Nate e o Jackson tinham sumido.

Desci as escadas rastejando e fui na ponta dos pés até a porta da frente, espiando pelo olho mágico. Nate e Jackson estavam parados na minha varanda!

Meu coração disparou em um galope louco, minha barriga se contorceu em uma mistura de nervosismo e excitação. O que eles estavam fazendo aqui? Não conseguia me lembrar da última vez que o Nate veio à minha casa.

Ele só vinha com os pais quando éramos pequenos. Quando se tornou um adolescente, ele parou de vir. Provavelmente não falamos mais do que um oi nos últimos anos.

Jackson estendeu a mão e tocou a campainha novamente. Devo abrir a porta? Eu olhei para o minha roupa. Minha calça de pijama rosa com unicórnios era muito sexy.

Sem mencionar a camiseta velha e surrada que eu estava usando. E eu não estava de sutiã. Não que eu precisasse de um. Meus pequenos seios mal eram perceptíveis.

"Só um minuto,” gritei antes de disparar escada acima para pegar um moletom.

Respirei fundo, desejando que minha frequência cardíaca diminuísse quando virei a fechadura e abri a porta da frente.

"Oi”, eu disse. "Vocês precisam de algo?”

"Podemos entrar?" Jackson perguntou.

"Não. Eu vou sair na varanda.” Não me sentia confortável em ficar sozinha na minha casa com dois homens. Mesmo que eles fossem caras que eu conhecia desde pequena.

"Tudo bem,” Nate disse enquanto se sentava em uma das cadeiras de vime que meu pai mantinha na varanda.

Jackson se encostou na grade e gesticulou para que eu ocupasse a outra cadeira. Sentei-me, olhando para os dois enquanto esperava que um deles dissesse algo.

"O Nate tem uma proposta para você”, disse Jackson.

Eu olhei para o Nate com expectativa. Ele esfregou as mãos nas coxas, mantendo os olhos fixos no chão da varanda.

Não me lembrava de ter visto Nate Miller nervoso antes. Ele estava lindo como sempre. E muito maior do que eu me lembrava. Ele estava malhado. Eu não pude deixar de notar os músculos sob sua camiseta cinza apertada.

Seus ombros foram sempre tão largos? E quando ele fez as tatuagens? Ambos os braços estavam cobertos por um desenho intrincado.

Ele correu os dedos por suas mechas de cabelo grossas e castanhas, aqueles olhos azuis diabólicos observando meu peito enquanto limpava a garganta.

Eu cruzei meus braços sobre o peito. Por que Nate estava me olhando assim? Ele nunca tinha feito isso antes. Jamais. Mas, para ser justa, a última vez que havia passado algum tempo com ele, eu tinha treze anos.

"Jackson precisa de uma equipe para a próxima temporada da Maratona da Aventura. Ele me perguntou se eu participaria.”

"Espere", disse Jackson, levantando a mão. "Ela precisa assinar um contrato de sigilo antes que essa conversa prossiga.”

"Por que eu tenho que assinar um?” Eu perguntei, franzindo minha sobrancelha. "Isso não tem nada a ver comigo."

Jackson abriu sua pasta, que eu nem tinha percebido que ele havia trazido, e pegou uma folha de papel. "Se você assinar isso, responderemos a todas as suas perguntas.”

"Sério?" Eu zombei, pegando o pedaço de papel da sua mão. Eu folheei o papel antes de assinar na parte inferior.

"Vá em frente, Nate", disse Jackson enquanto colocava meu contrato de volta em sua pasta.

"Bem, é o seguinte”, ele começou, esfregando o queixo enquanto olhava para a rua. "Onde está o seu pai?"

"O quê?" O que isso tem a ver com meu pai? Ou comigo?

"Ele foi para Las Vegas. Por que?"

"Eu só queria saber,” Nate respondeu. "Então, hum. Sim."

"Oh meu Deus,” Jackson bufou impaciente. "Eu preciso de um casal recém-casado para o meu programa ou eu vou ser demitido. Nate concordou em participar, mas ele precisa de uma parceira. E essa parceira tem que ser sua esposa.”

Eu encarei Jackson, minha boca escancarada enquanto processava suas palavras. "Você está doido, Jackson Davis?"

"Provavelmente,” ele suspirou. "Mas minha carreira está em jogo.”

"E você concordou com isso?" Eu perguntei, olhando para o Nate.

"Sim." Seus olhos se fixaram nos meus, causando um arrepio na minha espinha. Eu ainda me sentia atraída por ele depois de todos esses anos. "Nós podemos anular o casamento assim que terminarmos de filmar o programa. Não é grande coisa. Seria apenas para atender aos requisitos.”

"Vocês estão loucos?" Eu gritei.

"Shhh,” Jackson silenciou. "Isso é coisa ultrassecreta. Você assinou um contrato de sigilo.”

Eu me levantei e apontei para as escadas. "Saiam. Agora. Minha resposta é não.”

"Você não pode, pelo menos, pensar sobre isso?" Jackson choramingou.

"Não. Não vou me envolver em um casamento de aparência. E eu não tenho nenhuma vontade de participar do seu programa. Lamento não poder te ajudar, Jackson.”

- Desculpe incomodá-la, Stella - disse Nate, sorrindo tristemente antes de descer as escadas.

Jackson abriu sua pasta e pegou um envelope vermelho. "Aqui", disse ele, me entregando o envelope. "Caso você mude de ideia. Ele contém todas as informações que os concorrentes em potencial recebem. Mas certifique-se de que ninguém mais veja. É confidencial.”

Depois que eles saíram, voltei para dentro de casa e tranquei a porta. Minhas pernas tremiam enquanto eu entrava na sala e me jogava no sofá.

O que tinha acabado de acontecer? Parecia que Nate Miller tinha me pedido em casamento. E que eu fosse sua parceira na Maratona de Aventura. Eu jamais poderia fazer algo assim. Mesmo que não envolvesse um casamento de aparência.

Eu não era atlética. Eu mal conseguia correr pela calçada sem perder o fôlego. E os competidores daquele programa tinham que fazer algumas coisas bem radicais. Não havia a menor possibilidade que eu pudesse escalar uma montanha ou fazer bungee jumping.

Meu iPad apitou, me alertando que tinha recebido uma ligação do FaceTime.

"Olá, pai!" Eu disse.

"Ei, gatinha. Como está tudo em casa?”

"Está tudo bem, pai." Eu arregalei os olhos quando o vi. O que diabos ele estava vestindo? Meu pai estava vestido com um smoking retrô azul bebê, sorrindo de orelha a orelha. "O que está acontecendo? Você está bêbado?"

"Bêbado de amor, baby,” ele disse em sua melhor personificação de Elvis. Devo mencionar que meu pai é um grande fã de Elvis.

"Do que você está falando?" Eu ri.

Uma jovem ruiva apareceu na tela. Ela provavelmente tinha mais ou menos a minha idade. O medo tomou conta de mim quando eu vi seu vestido branco e o buquê em suas mãos.

"Pai, o que está acontecendo?" Minha voz falhou enquanto eu rezava para que não fosse o que parecia.

"Eu me casei, querida,” ele anunciou com orgulho, passando o braço em volta do ombro da garota.

"O quê?"

"Essa é minha esposa, Tina."

O iPad escorregou pelos meus dedos, caindo no sofá fazendo um barulho suave. Meu pai se casou? Com uma garota que não parecia muito mais velha do que eu. Isso não podia estar acontecendo.

"Stella, você está aí?"

Engoli em seco, pegando o iPad com as mãos trêmulas. "Estou aqui, pai."

"Olá", disse Tina com um aceno.

"Como? Quando?"

"Nós nos conhecemos ontem à noite. Ela era a garçonete no clube onde estávamos. Assim que nossos olhares se cruzaram, eu soube. Depois que ela saiu do trabalho, nos encontramos e conversamos. Uma coisa levou a outra e decidimos nos casar.”

"Você se casou com uma garçonete em Las Vegas! Pai! Você está louco!?"

"Não seja rude, Stella."

"Quantos anos ela tem, pai?"

"Stella”, ele disse com aquela voz que sempre me alertava para o fato de que meu pai estava ficando com raiva. Mas não me importei. Eu estava chateada.

"Quantos anos, pai?"

"Tina tem vinte e quatro anos. Portanto, vocês duas devem ter muito em comum. Espero que vocês se tornem melhores amigas.”

"Você enlouqueceu”, gritei. "Ela é uma garçonete! Em Vegas! Ela provavelmente é uma stripper. Ela é, não é ?!”

"Stella! Chega!"

"Vou desligar agora, pai. E não estarei aqui quando você chegar em casa com sua nova 'esposa'.”

"Por que não falamos sobre isso amanhã, quando você estiver mais calma?"

"Tchau, pai."

Meu corpo tremia, a raiva corria pelas minhas veias enquanto eu lutava contra o desejo de quebrar algo. Eu me considerava uma pessoa muito fácil de lidar. Apenas algo muito sério fazia eu explodir desse jeito.

Como meu pai pôde se casar com uma mulher que acabou de conhecer? Isso não era típico dele. Ele não era nada espontâneo. Meu pai não teve nenhuma namorada desde minha mãe. Não que eu soubesse.

A mãe do Nate me disse que meu pai começou a namorar depois que eu fui para a faculdade. Mas ele nunca mencionou isso, então não toquei no assunto. Eu fiquei feliz que ele estava retomando sua vida amorosa. Eu não queria que ele ficasse sozinho, mas não havia como esse casamento durar.

Meu pai não era velho. Ele tinha apenas 46 anos. Mas sua esposa tinha quase metade da sua idade! E meu pai é meio nerd, como eu. Ele é professor de engenharia na Universidade Lake Superior.

Não acredito que uma garçonete de vinte e quatro anos queira ficar com um cara que gosta de passar as noites de sábado jogando palavras cruzadas ou montando um quebra-cabeça enquanto assiste ao Discovery Channel.

Meu telefone tocou com uma mensagem do meu pai.

Pai"Querida, sinto muito ter te chateado. Você não pode ficar feliz por seu velho pai? "
Stella"Não quando eu acho que você está cometendo um grande erro.”
Pai"Lamento que você se sinta assim. Mas eu amo a Tina. Mal posso esperar para trazê-la para casa.”
Stella"Ela sabe onde você mora?”
Pai"Claro. Ela está feliz que o Leo terá um lugar seguro para crescer.”
Stella"Leo?”
Pai"Tina tem um filho de seis anos.”

Eu fechei os olhos com força, balançando a cabeça. A situação só piorava.

Stella"Pai, preciso de algum tempo para processar isso.”
Pai"Eu entendo. Tina e eu estamos indo para o México por algumas semanas. Precisamos de um pouco de tempo a sós para nos conhecermos antes de começarmos a viver juntos como uma família.”

Comecei a digitar que ele deveria conhecer alguém antes de se casar com essa pessoa, mas depois apaguei. Qual era o objetivo? Eles já estavam casados. Meu pai traria sua nova família para morar em nossa casa. E eu não tinha intenção de ficar por aqui.

Stella"Boa viagem, pai.”
Pai"Tudo vai ficar bem, querida. Confie em mim."
Stella"Boa noite, pai. Divirta-se no México.”
Pai"Cuide-se. Mike e Ellie estão do outro lado da rua, se você precisar de alguma coisa.”

Minha mente estava a mil, batendo contra meu crânio como uma máquina de lavar cheia demais.

Em menos de uma hora, passei da perspectiva de uma vida tranquila, embora um pouco enfadonha, vivendo apenas eu e meu pai, um emprego de professora na Universidade Lake Superior, para a loucura de um pedido de casamento e a descoberta de uma madrasta e um meio-irmão.

Não sei quanto tempo fiquei ali sentada olhando para a lareira. Não estava nem acesa. Foi apenas um ponto focal durante meu estado catatônico temporário. A lareira e o envelope vermelho na mesinha de centro. Continuei olhando para ele, abrindo minha mente para a oportunidade que ele representava.

Uma chance de escapar em um momento em que eu realmente precisava. Uma fuga da minha nova realidade. Uma espécie de férias com todas as despesas pagas. Com potencial para ganhar muito dinheiro.

Mas, a que custo? Eu teria que me casar. Eu poderia fazer isso? Não teria que casar com um estranho. Era com o Nate. Um cara que conheci minha vida inteira. O filho de pessoas que eram como pais para mim.

Além disso, era apenas um pedaço de papel. Ninguém esperava que eu desempenhasse funções de esposa. Eu estremeci com o pensamento. Não haveria consumação. Eu deixaria isso bem claro.

Como se o Nate quisesse transar comigo de qualquer maneira. Nenhum cara havia mostrado interesse em mim. A menos que você conte os nerds de Stanford. Já fui convidada várias vezes, mas sempre recusei. Eu nunca conheci ninguém que pudesse ser comparado com o Nate Miller.

Depois dele, como qualquer outro cara poderia ter uma chance? O que era uma besteira, porque nunca rolou nada no nosso relacionamento platônico.

Peguei o envelope da mesa e abri na primeira página. Não faria mal dar uma olhada. Eu assisti a todas as temporadas do programa desde a sua estreia.

Mas esse era totalmente diferente. Não teria eliminações! E parecia muito mais tranquilo. Os competidores teriam um dia inteiro de folga em todos os estados antes de seguirem para a próxima etapa.

Não teríamos que dormir em aeroportos. Estaríamos dirigindo um trailer o tempo todo. Pelo menos não seria necessário carregar todos os nossos pertences em uma mochila pesada.

À meia-noite fiz uma xícara de chá. Por volta das duas da manhã, li todos os documentos de trás para frente. Às quatro da manhã, decidi que faria isso. Eu ia me casar com o Nate Miller e participaria da Maratona da América. Por fim, adormeci no sofá quando o sol estava nascendo.

"Ai,” eu murmurei, imediatamente me arrependendo da decisão de dormir no sofá. Meu corpo inteiro parecia um pretzel torto. Sentei-me e estiquei meu pescoço rígido até soltar todos os músculos.

O envelope vermelho estava aberto sobre a mesa, uma lembrança viva da decisão que eu tinha tomado nas primeiras horas da manhã e que mudaria a minha vida.

Mas eu estava comprometida com essa decisão. Eu era assim. Depois que me decidia sobre algo, não voltava atrás. Dessa vez não seria diferente.

Quando terminei de tomar banho e me vestir, Ellie estava em sua varanda tomando café, como fazia todas as manhãs. Peguei minha jaqueta no armário do corredor e atravessei a rua.

"Bom dia, Stella", ela gritou enquanto eu subia a escada.

"Bom dia, Ellie." Ela franziu a testa quando cheguei ao degrau mais alto. "Oh céus. Você teve uma noite difícil, querida?"

"Poderia dizer que sim,” eu suspirei.

"Você quer falar sobre isso?"

"Meu pai se casou com uma garçonete de vinte e quatro anos que conheceu em Las Vegas. E ela tem um filho.”

"Hum. Uau." Ellie colocou sua xícara de café na mesa e se levantou, me abraçando. "Você está bem?"

"Na verdade não,” eu sussurrei.

"Isso não parece algo que seu pai faria."

"Sem brincadeira,” eu disse secamente. "Eu preciso dar o fora daqui antes que ele traga sua nova família para casa. Cadê o Nate?”

"Eu acho que ele ainda está na cama, querida. Por quê?"

"Nós vamos casar e entrar na Maratona de Aventura.”

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